Subgêneros de ficção científica

O termo “ficção científica” é controverso e limitado. Raul Fiker, em seu livro “Ficção Científica, Ficção, Ciência ou Épica da Época”, nos lembra de que nomes abrangentes são infelizes. Ele cita o fato de que um romance policial não envolve necessariamente policiais.

O Nome da Rosa, por exemplo, é, sob muitos aspectos, um romance policial. Há uma série de crimes sendo cometidos num mosteiro. Um monge em visita ao local, usa seus poderes de observação e a lógica para encontrar os culpados e suas motivações. Mas o livro não se resume a isso. Do mesmo modo, um romance passado na pré-história, A Guerra do fogo, que originou o filme de mesmo nome, e que lida com o impacto do uso do fogo por tribos de humanos primitivos em diferentes graus de desenvolvimento, é ficção científica sem precisar ser “futurista”. Há quem prefira o termo mais abrangente de “ficção especulativa”. Na verdade, atualmente existe até o “retro-futurismo”, uma vertente da ficção científica que aborda passados (ou futuros) alternativos, nos quais tecnologias atualmente consideradas obsoletas acabam sendo aperfeiçoadas além dos limites que conhecemos. Uma de suas linhas mais populares é o steampunk, aventuras passadas num século XIX no qual o vapor se tornou a base de tecnologias avançadas, como aviões, computadores e outros dispositivos.

Eis os subgêneros de ficção científica mais populares. Algumas dessas classificações podem ser até discutíveis, mas essa, no geral, é a terminologia pela qual eles são conhecidos:

Space Opera

Histórias cujo foco é a exploração do espaço profundo, envolvendo as consequências da colonização nem sempre pacífica de outros mundos e o contato com outras formas de vida e civilizações. Star Trek, tanto as séries de TV quanto os filmes, é um bom exemplo de space opera televisivo/cinematográfico.

Entre os autores mais expressivos do gênero, encontramos A.E Van Vogt (A Guerra Contra O Rull), Isaac Asimov (Fundação ), E.E. Doc Smith (A cotovia do Espaço) e Poul Anderson (Tau Zero).

 

Cyberpunk

O Cyberpunk é um subgênero de FC surgido nos anos 80 e que combina alta tecnologia, principalmente a cibernética, com uma atitude anarquista e desencantada com os rumos da civilização. Nos cenários cyberpunk, o mundo é dominado pelas megacorporações e os protagonistas são, quase sempre, anti-heróis, cínicos e anárquicos, tentando sobreviver, nem sempre por meios legais ou moralmente questionáveis. Em geral, as histórias se passam em ambientes de alta tecnologia e baixa qualidade de vida, uma metáfora tão válida hoje quando da publicação das primeiras histórias, há mais de três décadas. Há quem diga que o Cyberpunk é um produto datado, fruto dos anos 80, quando os primeiros hackers, protagonistas recorrentes do gênero, fizeram seus primeiros ataques. Contudo, para o público não familiarizado com essa vertente da FC, traduções audiovisuais do subgênero, como a série Altered Carbon e o filme Blade Runner ainda são bastante populares. Entre os autores mais influentes desse subgênero estão Bruce Sterling (Mirrorshades) e William Gibson (Neuromancer).

 

Biopunk

O biopunk, de certo modo, é um irmão do cyberpunk lida com o impacto da biotecnologia na sociedade, através de protagonistas, que se valem de tecnologias como a do DNA recombinante em sua luta contra megacorporações ou regimes totalitários. Assim como no mundo da cibernética, seus protagonistas são párias que usam recursos da biologia molecular para alterar seus corpos e obter novas capacidades, não através de implantes cibernéticos, mas através da aquisição ou modificação de genes. Há quem diga que, apesar de recente, esse subgênero possui raízes antigas, raízes que incluiriam Frankenstein, de Mary Shelley, e A Ilha do Doutor Moreau, de H.G. Wells, entre seus pioneiros.  Muitos autores já o praticaram, sem necessariamente fazer dessa estética um movimento. Entre os mais conhecidos estão, Michael Crichton (Jurassick Park), Octavia Butler (Dawn), China Miéville (Estação Perdido) e Ian MacDonald (The Dervish House).

 

Solarpunk

Essa é uma das mais recentes e, provavelmente a mais diferente vertente narrativa da FC, por um motivo simples. Diferente dos outros subgêneros, que lidam com cenários frequentemente distópicos, o solar punk é essencialmente otimista quanto ao futuro da humanidade e se ocupa de responder a seguinte pergunta: Como seria viver num mundo sustentável, abastecido por energia limpa e com um meio-ambiente a salvo das agressões de nossa civilização? Apesar de estar em franca ascenção em países anglófonos, coube a um livro brasileiro a primazia de inaugurar essa linha narrativa no Brasil: Solarpunk, Histórias Ecológicas e Fantásticas Em Um Mundo Sustentável, coletânea de Contos organizada por Gerson Lodi-Ribeiro, em 2012.

 

História alternativa

Também chamada de ucronia. Assim como utopia se refere “a lugar nenhum”, pois a sociedade descrita por Thomas Moore é uma metáfora, “ucronia” poderia ser traduzido como “tempo algum”, uma vez que se refere a linhas de tempo nas quais um ou mais incidentes, chamados “pontos de divergência”, que mudaram por completo a história como a conhecemos. A pergunta central da história alternativa é “o que aconteceria se…?” Em seu livro, COSMOS, Carl Sagan narra um incidente fascinante. Em 1785, Jean-Françoise La Pérouse deixou a França numa expedição de circum-navegação do globo. Entre os vários aventureiros que foram recusados em sua tripulação estava um jovem oficial de cavalaria chamado Napoleão Bonaparte. A expedição naufragou três anos depois, próximo das Ilhas Salomão, no oceano pacífico. Não houve sobreviventes. Agora, imagine o que teria acontecido se Napoleão tivesse sido incorporado à tripulação de La Pérouse? Toda uma série de eventos, como as guerras napoleônicas, deixaria de acontecer, nos levando a um presente muito diferente do que aquele em que vivemos. Esse subgênero é um dos mais fascinantes da ficção científica, especialmente pelo fato de que sus premissas, com muita frequência se baseiam em possibilidades plausíveis. Philip K. Dick autor de Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? livro que inspirou o filme Blade Runner, mesmo não sendo um cultor dessa vertente, nos deu aquela que é considerada a mais famosa trama de história alternativa de todos os tempos: O Homem do Castelo Alto, que apresenta ao leitor um mundo onde as forças do Eixo e não os aliados venceram a segunda guerra mundial. No Brasil, a primeira narrativa de história alternativa foi escrita por Gerson Lodi-Ribeiro: A Ética da Traição, publicada na edição brasileira da Revista Isaac Asimov Magazine, na qual o autor nos apresenta um mundo no qual o Brasil e a tríplice aliança perderam a Guerra do Paraguai, país que agora é um dos mais prósperos e avançados do mundo.

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