Imortalidade

 

O livro Carbono Alterado, de Richard K. Morgan, e a série dele derivada, no NETFLIX, jogam com as consequências sociais e culturais do “download de consciência”, uma tecnologia que permitiria, literalmente, a imortalidade. Se pudéssemos, de algum modo, gravar nossas memórias e aquilo que pode ser chamado de “consciência”, uma vez que dispuséssemos de corpos (biológicos ou não) capazes de receber esse download, nada mais seria como antes. Mas, para isso, é preciso responder à singela pergunta: O que é consciência?

Esse tema é abordado em meu próximo livro, Onde Nenhuma Kombi Jamais Esteve, através de Alfredo, o protagonista. Morto aos 80 anos e com a consciência transferida para um novo e aperfeiçoado corpo, o que o faz acreditar que ele seja o mesmo sujeito de cujas memórias é possuidor?

Existem pesquisadores na área de neurociências que acreditam que a consciência poderia ser replicada a partir de um escaneamento do cérebro por algum tipo de ressonância magnética cuja definição alcançasse o nível molecular. Se pudéssemos mapear todas as sinapses de um cérebro, um cérebro vivo e saudável, de preferência, em teoria, teríamos um perfil estrutural das vias neurais que nos tornam únicos. Contudo, traduzir essas sinapses em ideias, conceitos, lembranças e emoções é outra história. Mesmo que isso fosse 100% exequível, surge outro problema: o registro de uma vida não é a vida. Há o componente dinâmico. Há teóricos que acreditam que aquilo que conhecemos como consciência surgiria da interação entre eventos que viriam de uma escala subatômica em nossos cérebros, uma arquitetura de relações que começaria com partículas menores que átomos e chegaria a um nível fisiológico. O quanto estamos perto dessa possibilidade?

Pesquisadores da universidade de Yale estão trabalhando em uma tecnologia capaz de “gravar” imagens de sonhos e memórias. Para isso, eles utilizaram equipamentos de ressonância especiais, feitos para escanear o cérebro durante sonhos ou reminiscências de memórias. As informações foram gravadas em computadores capazes de convertê-las em imagens. Apesar de borradas, foi possível reconhecer rostos e expressões faciais. Mas, novamente, muito da informação armazenada em nossos cérebros não é sensorial. E mesmo que conseguíssemos gravar conceitos ou abstrações, integrar todo esse conteúdo de modo ordenado e funcional é algo que, por enquanto, ainda pertence aos domínios da ficção.

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